segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

LIMPANDO A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA - Perspectivas e Possibilidades

Desde a seca de 2001/2001 que ocasionou o apagão pela diminuição do nível de água das represas das hidrelétricas, a Matriz energética, sofreu um empobrecimento de qualidade, com a construção de termelétricas movidas principalmente a diesel subsidiado e gás natural.
Ainda assim, 84% da energia elétrica produzida no Brasil é gerada por fontes renováveis, contra uma média mundial de 19%. Muito deste percentual é graças à geração hidrelétrica, responsável por 77% da produção dessa energia.
O combustível utilizado pelas termelétricas brasileiras é 73% de origem fóssil: petróleo, carvão mineral e gás. Embora o petróleo seja responsável por apenas 3,1 da produção de energia elétrica (responde por 37,3% da Matriz Energética Brasileira), aliado ao carvão, são os grandes vilões dessa produção, por seu alto grau de emissão de gases de efeito estufa.
Nos últimos anos temos assistido uma lenta melhora em nossa Matriz, em termos de fontes renováveis, com a construção de muitas termelétricas movidas a biomassa, principalmente com utilização de bagaço de cana, responsável por 23% dessa produção, oriundo das usinas de etanol. A bioeletricidade hoje responde por cerca de 3% da matriz de energia elétrica e o setor crê que pode chegar a 11% até a safra de 2015/2016.
O etanol tem se tornado uma dádiva para a sociedade brasileira. Com o lançamento dos carros flex, bicombustíveis, cuja venda até outubro de 2009 foi de 94% em relação a todos os carros vendidos no país e tem auxiliado a população a beneficiar-se de preços/rendimento mais compensadores do etanol que da gasolina, embora haja períodos de aumento do preço do álcool movidos por entresafra ou alta do açúcar no mercado internacional e ainda o fantasma do aumento da exportação sempre rondando.
No biodiesel, o aumento na produção até motivou a antecipação da meta de adição de 5% no diesel brasileiro, de 2013 para 2010. O grande desafio é a diversificação da matéria-prima para produção que, hoje, é predominantemente a soja.
Voltando à geração hidrelétrica, tivemos o início da construção das usinas de Jirau e Santo Antônio no Rio Madeira (RO), um aceno para liberação da construção de pequenas usinas pela iniciativa privada, muito menos ambientalmente impactantes que as gigantescas obras, como a de Belo Monte, no Rio Xingu, prevista para ser a segunda maior usina do país, atrás apenas de Itaipu. Que a Usina de Tucurui e sua emissão de gases de efeito estufa nos sirva de lição.
Tivemos em 2009 a retomada da construção de Angra III, paralisada desde 1986, com previsão de conclusão em 2015, e, embora se considere um equipamento ultrapassado, vai elevar a participação da energia nuclear de 1,9% para 3,2% (com base na produção atual). Além da previsão de construção de seis novas usinas nos próximos anos, juntamente com o anúncio de melhora de tecnologia para redução e reutilização dos resíduos nucleares.
Tivemos em dezembro o primeiro leilão de energia eólica do Brasil, com a aquisição de 1.805,7 megawats (MW) em 339 empreendimentos nos estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e Sergipe. Essa capacidade é três vezes maior que a atualmente em operação, que é de 602 MW. Esse leilão coincide como o anúncio Governamental da isenção permanente dos impostos que taxavam a comercialização dos aerogeradores e a assinatura de um protocolo de intenções entre uma grande multinacional e o Governo da Bahia para a produção desse equipamento naquele estado.
Talvez o grande lapso que estamos cometendo seja em relação à energia solar, principalmente com a ausência de regulamentação e planejamento para o setor. O Brasil tem grandes reservas de quartzo, utilizado na produção do silício, matéria-prima da fabricação das células fotovoltaicas. A única usina existente no Brasil é a de Araras (RO), com a produção de 0,2 MW, apenas para fins de estudo. É uma energia estratégica, pois órgãos internacionais prevêem que em 2050 25% da demanda de energia do planeta virá dessa fonte, que deverá chegar a 70% no fim do século.

(*) José Cláudio Alves da Silva é administrador, com especialização em gestão de cooperativas e militante ambiental desde 1996

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