terça-feira, 31 de março de 2015

Exposições brilhantes e casa cheia foram a marca do 3o encontro técnico I+ do ano

Cientistas e especialistas de grandes empresas se reúnem para falar sobre gestão de recursos hídricos e gestão das águas

*Por Fernando Novais

A crise que atinge os reservatórios de abastecimento de água e a exploração de recursos naturais, provocando alterações expressivas no meio ambiente, fez com que empresas e sociedade civil passassem a dividir responsabilidades, adotando práticas conscientes e sustentáveis.

Com o intuito de promover um debate sobre a gestão de recursos hídricos, apresentando as melhores práticas ambientais promovidas pelas empresas e reunindo pesquisadores para analisar o panorama atual e indicar prospectivas para o futuro, o Instituto Mais, em parceria com a Mais Projetos, promoveu o terceiro encontro técnico, realizado na última quinta-feira, 26 de março.

O evento realizado na Universidade Anhembi Morumbi, no Campus Paulista, contou com as participações da gerente de Relações Socioambientais da Ambev, Simone Veltri; da gerente de Estudos e Manejo da Ictiofauna e Programas Especiais da CEMIG, Raquel Coelho Loures Fontes; do professor da Escola Politécnica da USP, Arisvaldo Vieira Mello Junior; e do professor de Ciências Atmosféricas da USP, Augusto José Pereira Filho.

Tida como a maior fabricante de cerveja do mundo, a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) foi uma das empresas a adotar medidas importantes para diminuir o consumo de água dentro de sua cadeia produtiva, passando de mais de cinco hectolitros de água para produção de um hectolitro de bebida para 3,34 hectolitros para cada hectolitro produzido. A meta da companhia é chegar a 3,2 hectolitros em 2017.

Em parceria com o WWF-Brasil, a Ambev desenvolveu o “Projeto Bacias”, certificado pelo Programa Benchmarking Brasil em 2014, que atuou em quatro frentes: diagnóstico socioambiental e plano de recuperação da bacia; plano participativo de áreas degradadas; fomento da gestão da água no Distrito Federal e construção de aprendizagem e disseminação das lições aprendidas. A gerente de Relações Socioambientais da empresa, Simone Veltri, ressaltou que a segunda parte do programa está a caminho:

“O Projeto Bacias Gama foi a nossa primeira edição, estamos indo para a segunda edição do programa. Além do Gama, nós lançamos oficialmente o Programa Bacias Jaguariúna, que trabalha nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde estamos desenvolvendo um modelo de pagamento por serviços ambientais aos produtores rurais para que utilizem práticas de conservação para produção de água.”

A mesma filosofia que prega a preservação do ecossistema também é praticada e difundida pela Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), que, representado pela gerente de Estudos e Manejo da Ictiofauna e Programas Especiais, Raquel Coelho Loures Fontes, apresentou o case “Programa Peixe Vivo”, certificado pelo Programa Benchmarking Brasil em 2014.

Iniciando suas atividades em 2007,o projeto tem como foco a conservação da ictiofauna nas bacias hidrográficas, fazendo com que os produtos do setor primário, que sustentam a economia de pequenas comunidades no entorno das usinais, não sejam afetados. Segundo Raquel Coelho, após a implementação do programa, houve uma redução de 77% de biomassa afetada, ou seja, de peixes mortos devido às operações da empresa. A empresa também trabalha na formação de cidadãos conscientes e que desenvolvam boas práticas de responsabilidade socioambiental, como contou Raquel Coelho:
“Temos um projeto voltado estritamente para a parte de educação ambiental. Ele não é só palestras e cartilhas. Nós desenvolvemos um trabalho intensivo nas escolas, com professores acompanhando a mesma turma a cada 15 dias. São assuntos e temáticas ambientais que foram acompanhados ao longo dos anos.”

Como parte do projeto, a CEMIG soltou quase 1,5 milhão de alevinos em bacias hidrográficas mineiras, com a finalidade de recompor os estoques de peixes de interesse ecológico, de forma a suplementar as populações já existentes na região e manter as espécies em ambientes aquáticos impactados por causas naturais ou pela ação humana.


Mas quais foram os motivos que levaram à situação emergente na qual estamos passando hoje? Para o professor da Escola Politécnica da USP, Arisvaldo Vieira Mello Junior, a concentração das demandas, a exploração de aquíferos e de mananciais superficiais, as incertezas entre oferta e demanda e a poluição excessiva dos mananciais hídricos são alguns dos motivos que estão relacionados com o cenário catastrófico que vivenciamos atualmente:
“Quais serão as consequências disso tudo? Aumento dos conflitos pelo uso da água, níveis de garantias insatisfatórios, o que causaria problemas sociais e econômicos terríveis, e alterações do regime hidrológico que depende do uso e ocupação de solo. Esse é um dos objetivos de você ter que preservar nascentes e bacias hidrográficas.”

As soluções apontadas pelo professor foram: aperfeiçoamento do processo de gestão, planejamento efetivo, sustentabilidade no uso de recursos naturais e investimento em infraestrutura, visando o bem-estar e a equidade social, a redução de riscos ambientais e a produção sustentável.


O professor da USP, Augusto José Pereira Filho, apontou a umidade no Oceano Atlântico como fator primordial pela falta de chuva, e não o desmatamento na região amazônica, como diversos especialistas apontam:
“A origem da água está no Oceano Atlântico, e não na Amazônia. A água sai do Atlântico, vem para a Amazônia, precipita, recircula e vem para o Sul. E daqui, ela vai para a Antártica. Essa é a situação média do ano.”
Augusto salientou ainda que o recorde de temperatura registrado na cidade de São Paulo no ano passado não está relacionado com o aumento de CO2 na atmosfera, mas sim com uma Alta Subtropical vinda do Atlântico, que pairou na região Nordeste e se estendeu para outras regiões do Brasil:
“Quando você tem um bichão desse tamanho que cruza a África, chega até o Brasil e senta em cima da gente, não chove. Sinto muito, não chove. O fato é que nós dependemos completamente do sistema. O que eu tenho que fazer? Aprender a lidar com essa variabilidade climática e controlar o consumo. Essa questão de sustentabilidade significa entender quando a gente vai entrar numa situação dessas e economizar água. O problema foi que, quando entramos, nós não economizamos água.”

E no final do evento, chegamos a um consenso claro e simples: sabendo usar os recursos hídricos com responsabilidade e de forma sustentável, não faltará água hoje e não estaremos comprometendo as futuras gerações de nosso planeta.

AGENDA

O Programa Benchmarking Brasil está com as inscrições abertas para empresas e gestores que promovem as melhores práticas socioambientais para concorrer ao XIII Ranking Benchmarking dos Legítimos da Sustentabilidade. As inscrições poderão ser feitas online até o dia 17 de abril através do site:  http://benchmarkingbrasil.com.br/

Os cases selecionados serão certificados como “Cases Benchmarking”, e farão parte do maior Banco Digital de Boas Práticas Socioambientais com livre acesso do país, além de fazerem parte da grade de encontros técnicos a partir de 2016. No dia 2 de julho, será conhecido o ranking das melhores práticas socioambientais do país, e também será lançado oficialmente o livro BenchMais3.

Instituto Mais dará uma pausa com os encontros técnicos, que retornarão no dia 24 de setembro (24/09) com o tema “Ferramentas e Políticas de Gestão Socioambiental nas Empresas”, contando com as participações do professor da FGV/EAESP, Dagoberto Lorenzetti; do professor da FEA/USP, José Roberto Kassai; do superintendente de Meio Ambiente da Itaipu Binacional, que apresentará o case “IB – Programa Coleta Solidária”, certificado pelo Programa Benchmarking Brasil 2014, Jair Kotz; e da gestora da filial do The Forest Trust (TFT) no Brasil, que apresentará o case “Transformando Histórias”, também certificado pelo Programa Benchmarking Brasil 2014, Tatiana Pagotto Yoshida.

Os encontros técnicos recebem o apoio do curso de Relações Públicas da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, que gentilmente cede o espaço para a realização do evento. Também conta com a participação dos voluntários I+. 

Caso queira prestigiar os nossos eventos, a entrada é gratuita, contudo, é preciso fazer a inscrição através de nossa página: http://www.institutomais.com.br/forms/cadastro_eventos.php

Conheça a programação completa com os palestrantes confirmados no site do Instituto Maishttp://www.institutomais.com.br/sem-categoria/fibops-tecnica-2015/

(*) Fernando Novais é jornalista e voluntário do Instituto MAIS

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