Cientistas e especialistas de grandes empresas se reúnem para falar sobre gestão de
recursos hídricos e gestão das águas
*Por Fernando
Novais
Com o intuito de
promover um debate sobre a gestão de recursos hídricos, apresentando as
melhores práticas ambientais promovidas pelas empresas e reunindo pesquisadores
para analisar o panorama atual e indicar prospectivas para o futuro, o Instituto Mais, em parceria com a Mais Projetos, promoveu o terceiro
encontro técnico, realizado na última quinta-feira, 26 de março.
O evento
realizado na Universidade Anhembi
Morumbi, no Campus Paulista, contou com as participações da gerente de
Relações Socioambientais da Ambev, Simone
Veltri; da gerente de Estudos e Manejo da Ictiofauna e Programas Especiais
da CEMIG, Raquel Coelho Loures Fontes;
do professor da Escola Politécnica da USP, Arisvaldo
Vieira Mello Junior; e do professor de Ciências Atmosféricas da USP, Augusto José Pereira Filho.
Tida como a
maior fabricante de cerveja do mundo, a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev)
foi uma das empresas a adotar medidas importantes para diminuir o consumo de
água dentro de sua cadeia produtiva, passando de mais de cinco hectolitros de
água para produção de um hectolitro de bebida para 3,34 hectolitros para cada
hectolitro produzido. A meta da companhia é chegar a 3,2 hectolitros em 2017.
Em parceria com
o WWF-Brasil, a Ambev desenvolveu o “Projeto
Bacias”, certificado pelo Programa
Benchmarking Brasil em 2014, que atuou em quatro frentes: diagnóstico
socioambiental e plano de recuperação da bacia; plano participativo de áreas
degradadas; fomento da gestão da água no Distrito Federal e construção de
aprendizagem e disseminação das lições aprendidas. A gerente de Relações
Socioambientais da empresa, Simone Veltri, ressaltou que a segunda parte do
programa está a caminho:
“O Projeto Bacias Gama foi a nossa primeira
edição, estamos indo para a segunda edição do programa. Além do Gama, nós
lançamos oficialmente o Programa Bacias Jaguariúna, que trabalha nas bacias dos
rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde estamos desenvolvendo um modelo
de pagamento por serviços ambientais aos produtores rurais para que utilizem
práticas de conservação para produção de água.”
A mesma
filosofia que prega a preservação do ecossistema também é praticada e difundida
pela Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), que, representado pela
gerente de Estudos e Manejo da Ictiofauna e Programas Especiais, Raquel Coelho
Loures Fontes, apresentou o case “Programa
Peixe Vivo”, certificado pelo Programa
Benchmarking Brasil em 2014.
Iniciando suas
atividades em 2007,o projeto tem como foco a conservação da ictiofauna nas
bacias hidrográficas, fazendo com que os produtos do setor primário, que
sustentam a economia de pequenas comunidades no entorno das usinais, não sejam
afetados. Segundo Raquel Coelho, após a implementação do programa, houve uma
redução de 77% de biomassa afetada, ou seja, de peixes mortos devido às
operações da empresa. A empresa também trabalha na formação de cidadãos
conscientes e que desenvolvam boas práticas de responsabilidade socioambiental,
como contou Raquel Coelho:
Como parte do
projeto, a CEMIG soltou quase 1,5 milhão de alevinos em bacias hidrográficas
mineiras, com a finalidade de recompor os estoques de peixes de interesse
ecológico, de forma a suplementar as populações já existentes na região e
manter as espécies em ambientes aquáticos impactados por causas naturais ou
pela ação humana.
Mas quais foram os
motivos que levaram à situação emergente na qual estamos passando hoje? Para o
professor da Escola Politécnica da USP, Arisvaldo Vieira Mello Junior, a
concentração das demandas, a exploração de aquíferos e de mananciais
superficiais, as incertezas entre oferta e demanda e a poluição excessiva dos
mananciais hídricos são alguns dos motivos que estão relacionados com o cenário
catastrófico que vivenciamos atualmente:
“Quais serão as consequências disso tudo?
Aumento dos conflitos pelo uso da água, níveis de garantias insatisfatórios, o
que causaria problemas sociais e econômicos terríveis, e alterações do regime hidrológico
que depende do uso e ocupação de solo. Esse é um dos objetivos de você ter que
preservar nascentes e bacias hidrográficas.”
As soluções
apontadas pelo professor foram: aperfeiçoamento do processo de gestão,
planejamento efetivo, sustentabilidade no uso de recursos naturais e
investimento em infraestrutura, visando o bem-estar e a equidade social, a
redução de riscos ambientais e a produção sustentável.
O professor da
USP, Augusto José Pereira Filho, apontou a umidade no Oceano Atlântico como fator
primordial pela falta de chuva, e não o desmatamento na região amazônica, como
diversos especialistas apontam:
“A origem da água está no Oceano Atlântico,
e não na Amazônia. A água sai do Atlântico, vem para a Amazônia, precipita,
recircula e vem para o Sul. E daqui, ela vai para a Antártica. Essa é a
situação média do ano.”
Augusto
salientou ainda que o recorde de temperatura registrado na cidade de São Paulo
no ano passado não está relacionado com o aumento de CO2 na atmosfera, mas sim
com uma Alta Subtropical vinda do Atlântico, que pairou na região Nordeste e se
estendeu para outras regiões do Brasil:
“Quando você tem um bichão desse tamanho que
cruza a África, chega até o Brasil e senta em cima da gente, não chove. Sinto
muito, não chove. O fato é que nós dependemos completamente do sistema. O que
eu tenho que fazer? Aprender a lidar com essa variabilidade climática e
controlar o consumo. Essa questão de sustentabilidade significa entender quando
a gente vai entrar numa situação dessas e economizar água. O problema foi que,
quando entramos, nós não economizamos água.”
E no final do
evento, chegamos a um consenso claro e simples: sabendo usar os recursos
hídricos com responsabilidade e de forma sustentável, não faltará água hoje e
não estaremos comprometendo as futuras gerações de nosso planeta.
AGENDA
O Programa Benchmarking Brasil está
com as inscrições abertas para empresas e gestores que promovem as melhores
práticas socioambientais para concorrer ao XIII Ranking Benchmarking dos Legítimos da Sustentabilidade. As
inscrições poderão ser feitas online até o dia 17 de abril através do site: http://benchmarkingbrasil.com.br/
Os cases selecionados serão
certificados como “Cases Benchmarking”, e farão parte do maior Banco Digital de
Boas Práticas Socioambientais com livre acesso do país, além de fazerem parte
da grade de encontros técnicos a partir de 2016. No dia 2 de julho, será
conhecido o ranking das melhores práticas socioambientais do país, e também
será lançado oficialmente o livro BenchMais3.
Instituto Mais dará uma pausa com os
encontros técnicos, que retornarão
no dia 24 de setembro (24/09) com o tema “Ferramentas
e Políticas de Gestão Socioambiental nas Empresas”, contando com as
participações do professor da FGV/EAESP, Dagoberto
Lorenzetti; do professor da FEA/USP, José
Roberto Kassai; do superintendente de Meio Ambiente da Itaipu Binacional,
que apresentará o case “IB – Programa
Coleta Solidária”, certificado pelo Programa Benchmarking Brasil 2014, Jair Kotz; e da gestora da filial do
The Forest Trust (TFT) no Brasil, que apresentará o case “Transformando Histórias”, também certificado pelo Programa
Benchmarking Brasil 2014, Tatiana
Pagotto Yoshida.
Os encontros técnicos recebem o apoio do curso de Relações Públicas da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, que gentilmente cede o espaço para a realização do evento. Também conta com a participação dos voluntários I+.
Caso queira prestigiar os nossos eventos, a
entrada é gratuita, contudo, é preciso fazer a inscrição através de nossa
página: http://www.institutomais.com.br/forms/cadastro_eventos.php
Conheça a
programação completa com os palestrantes confirmados no site do Instituto Mais: http://www.institutomais.com.br/sem-categoria/fibops-tecnica-2015/
(*) Fernando Novais é jornalista e voluntário do Instituto MAIS
(*) Fernando Novais é jornalista e voluntário do Instituto MAIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário