terça-feira, 30 de março de 2010

O REAL MÉRITO DA QUESTÃO

Dificilmente alguém hoje ainda não ouviu falar em mudanças climáticas. Os cuidados com o meio ambiente, o debate sobre sustentabilidade e as ações predatórias do homem degradando o planeta, soluções ecológicas e tragédias inevitáveis.
Tudo isso vem sendo apresentado em diversos veículos de mídia. Documentários já foram feitos, noticias publicadas e filmes bateram recordes de bilheteria. Com a COP 15 no final do ano passado, o tema tomou proporções globais, cobertura jornalística intensa, e caiu no domínio público.

Mas toda esta exposição acabou atraindo também o lado oposto. Tudo o que vem sendo apresentado como sendo as causas das mudanças climáticas vai de encontro ao nosso estilo de vida, aos nossos meios de produção e consumo e principalmente à nossas tecnologias de obtenção de energia para garantir tudo que acostumados.
Logo, mudança climática significa retirar alguém de sua zona de conforto, um ataque direto ao sistema vigente do capitalismo. Seja este o motivo ou não, diversos artigos e notícias começaram a aparecer questionando os estudos e dados referentes à mudança do clima e seus resultados futuros, e alguns destes argumentos contrários as mudanças climáticas se provaram realmente findados. Cientistas renomados e estudos que tomávamos como bases foram provados incorretos, e serão revistos e avaliados.

Gostaria, no entanto, de esquecer um pouco este duelo. Não quero afirmar que os cientistas estão corretos e precisos em detalhar todos os eventos possíveis que ocorrerão devido as alterações da temperatura da terra, muito menos dizer que estão errados e que isto não passa de uma rotina no ciclo do planeta, algo inevitável que ocorreu e ocorrerá novamente independente da interferência antrópica. Gostaria mesmo de focar na oportunidade que nos foi aberta aos olhos.

Todo este debate, todos estes estudos nos mostraram algo muito além das emissões, muito além do aquecimento global. Estes fatos, esta avaliação que esta sendo feita sobre nosso modo de viver nos dá uma lição que estamos aprendendo, ou pelo menos devíamos estar, de que nossa forma de viver é extremamente ineficiente. Podemos e devemos mudar muito nossa forma de produzir, nossa forma de conviver, nossa forma de aproveitar e não desperdiçar e principalmente mudar nossos conceitos. Temos que aprender a ter uma visão mais holística de nossas ações. “Toda ação tem uma reação”.
Devemos parar de reclamar um pouco e repensar nossas atitudes. Se um sofá é jogado na rua durante uma tempestade, não deveria ser surpresa quando o bairro alagasse. Se degradarmos todos nossos recursos naturais e fontes de combustíveis hoje, o que haverá para suprir nossa necessidade amanhã?

São pensamentos que nos parecem óbvios, mas gostaria de usá-los para reforçar que independente do clima estar mudando ou não, as oportunidades que estão aparecendo devido a esta possibilidade são enormes e apenas nos trazem resultados positivos, quer a temperatura do globo suba 2o C ou não.
Mudar para tecnologias limpas e renováveis, reaproveitar a água da chuva, reduzir o consumo de modo geral, tudo isso é na verdade uma enorme evolução de pensamento. Um aprendizado fundamental rumo a uma nova consciência ambiental e a uma nova economia, mais racional e sustentável: o capitalismo natural.
A questão é, mesmo que daqui a 50 anos, supondo que todos os estudos sobre as mudanças climáticas estejam errados, pode ser que tudo não passou de uma projeção equivocada, a temperatura se estabilize e o business-as-usual fosse realmente uma opção.

Mesmo assim nada disso nos impede de mudar nosso estilo de vida, adotar práticas menos impactantes, viver de forma eficiente e em equilíbrio, preservar nossos principais recursos naturais e ainda lucrar com isso.
Todas estas novas opções, todas estas soluções “verdes” nos apontam grandes benefícios. Se os níveis de CO2 não estavam aquecendo o planeta, estavam por outro lado gerando a poluição que mata mais gente que a violência, se o petróleo era realmente um dos combustíveis mais acessíveis, sua escassez gerava guerras e exploração, se as florestas valiam mais degradadas com o desmatamento do que preservadas de pé, é porque nossa noção de lucro era mesmo muito limitada, afinal a oportunidade esta nos olhos de quem a vê.

(*) Henrique Mendes, MBA em Gestão Ambiental e Coordenador Técnico do Instituto Mais

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